Com Maria por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão
A festa em si, reveste-se de várias dimensões: religiosa, cultural, social… Entretanto, a festa de padroeiro ou padroeira tem como objetivo imprimir na comunidade os valores da autenticidade e essencialidade, de pertença e colaboração, conjugando-os com a dimensão pastoral para que levem as pessoas num percurso espiritual de crescimento, tendo como horizonte a configuração a Cristo. Por este motivo, na organização dos festejos é importante ter em conta elementos que contribuem para a meditação e que conduzam à oração e à harmonia, gerando comunhão. É um entrelaçamento de manifestações que partem da piedade popular, de valores culturais novos e tradicionais, da profissão da fé autêntica que, na liturgia, encontra sua expressão, de momentos lúdicos que criam identidade comunitária Enfim, toda a riqueza que no tempo e no espaço favoreça à uma relação verdadeira com Deus e com todos, construindo a fraternidade.
A Festa da Padroeira do ano em curso tem como temática a Sinodalidade, enquanto “caminho que Deus espera da Igreja do Terceiro Milênio”, como afirma o Papa Francisco. Com Maria por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão se apresenta como oportunidade para uma reflexão consciente de sermos Igreja, começando pela identidade que nos confere o Sacramento do Batismo, sendo “fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito… Síamos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornando-nos membros de Cristo, incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão” (CIC 1213).
Tendo a consciência desta identidade de pertença à Igreja, é oportuno lembrar que ela (a Igreja) não é só uma estrutura estranha, é antes de tudo mistério da Trindade, como diz São Cipriano: “… a Igreja aparece como o povo redimido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Portanto, a Igreja é sacramento da comunhão trinitária. “E a comunhão é um traço distintivo da vida dos que acolhem o Evangelho” (Dom Armando Bucciol). A Igreja se configura como povo messiânico que tem por cabeça Cristo, O qual foi entregue por nossos pecados e ressuscitou pela nossa justificação (salvação)… Tem por condição a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus (LG n.24), sendo desta forma sacramento de comunhão para salvação de todos.
Na Igreja Sinodal, a Palavra de Deus tem um lugar privilegiado e central. Por excelência é Jesus Cristo a Palavra de Deus: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1,1). A Palavra revela quem é Deus e anuncia a boa notícia para todos, apresentando a novidade do Reino. Esta Palavra espera da parte da humanidade a escuta e a conversão, que levem à progressiva configuração a Cristo. Esta mesma “Igreja vive da Eucaristia” (EE n. 1) e a Eucaristia é o próprio Cristo no meio do seu povo. “Eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Sua presença é a expressão máxima da comunhão conosco, consequentemente, suprema manifestação da comunhão eclesial, pois não é admissível divisões entre aqueles que participam do mesmo Pão partido e do mesmo Cálice oferecido: “Isto é o meu Corpo… isto é o meu Sangue”.
A Sinodalidade da Igreja faz refletir sobre a responsabilidade de seus membros, isto é, de todos os batizados, em todas as suas dimensões. A Igreja é missão, ela existe para evangelizar: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 20,19). A missão não é algo por fazer simplesmente, sendo elemento constitutivo da Igreja, é antes de tudo algo para viver e deve ser vivenciado por todos os batizados – discípulos missionários, pois é missão de todos nós.
Na Igreja Sinodal, a corresponsabilidade é base de reflexão para participação concreta e material, como é caso do dízimo que, na missão da Igreja, contempla quatro dimensões: a religiosa, a caritativa, a eclesial e a missionária. Participar ativamente na ação missionária, partindo desta consideração acima indicada, significa, antes de tudo, ser consciente que tudo o que somos e tudo que temos é dom gratuito de Deus, que tudo cria e tudo sustenta com sua sabedoria e providência, portanto, a corresponsabilidade na sustentação e manutenção das ações da comunidade eclesial se reveste de gratidão a Deus que por nós tudo faz.
A Sinodalidade da Igreja encara a autoridade como serviço à comunidade, que se realiza no diálogo, no envolvimento e na “participação de todos nas decisões segundo a vocação de cada um”. Longe dos extremismos que podem ser o autoritarismo e o “democratismo” (tentação de decidir a vida e missão da Igreja pela votação). A Igreja é guiada pelo Espírito Santo que confere a autoridade dos pastores, este dom específico de orientar e “não uma função delegada e representativa do povo”.
A Igreja Sinodal não se fecha em si mesma, ela é dialogante e aberta ao mundo. Vive os desafios e as alegrias dos homens e mulheres do seu tempo, procurando juntos, com homens e mulheres de boa vontade, as soluções dos problemas que afligem o ânimo humano, lutando pela dignidade de todos sem exclusões. É autora da fraternidade universal que vai além das fronteiras de profissão da fé. Ela está a serviço da vida desde a concepção até o seu fim. Ela é caraterizada pela misericórdia que é manifestação e caraterística do agir de Deus na história. A Igreja Sinodal vive a caridade como expressão do próprio ser de Deus: Deus caritas est, Deus é amor; quem permanece no amor permanece em Deus (1Jo 4, 16).
Viver o Novenário encarnando todos estes aspetos é algo comprometedor e difícil. Sozinhos não conseguiremos dar passos nesse sentido, por isto, Maria faz caminho conosco e intercede por nós.
Nossa Senhora das Graças, rogai por nós!
Padre Victor Zacarias Luaco, PSDP, Pároco