Na Sexta Santa, Pe. Zacarias reflete Maria enquanto Mãe da humanidade

Mulher, eis teu filho!… Eis tua Mãe.” (Jo 19, 26-27)

Na cronologia narrativa do evangelho de São João antes destas palavras, o evangelista nos descreve a prisão de Jesus que se deu logo após a traição de um dos seus discípulos. Quanto é desconcertante! Ser traído por alguém que se confiava, alguém que de certa forma abraçava o projeto novo de Jesus, que é aquele de construir comunhão com Ele para ser sinal para o mundo, um testemunho eloquente da presença de Deus: “permanecei em meu amor. Se observais meus mandamentos permanecerei no meu amor. Como eu guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor.”(Jo15,10)

Não é só o discípulo traidor que não permaneceu com Jesus, mas outros também se dispersaram, cada um para um lugar, e Pedro coroa este êxodo com sua negação no decorrer do processo de Jesus diante das autoridades religiosas.

Segue-se o processo diante de Pilatos e a multidãoque se tumultua aos gritos: “À morte! À morte! Crucifica-o!” (Jo 19, 15) Jesus abandonado pela humanidade, porém ele permanece fiel ao projeto salvífico que proporciona a esta mesma humanidade a sorte de não ser abandonada à própria sorte; em valia da sua desobediência sem resgate.

É dentro deste quadro dramático que Jesus, conservando a sua fidelidade ao Pai e à humanidade, mostrando mais sua preocupação e compaixão pelo discípulo de ontem e de hoje oferecendo-lhe uma Mãe: “Mulher eis teu filho!” Nessas palavras, Jesus entrega toda humanidade à Maria, para que não se sinta órfão.

Maria é aquela intercessora nas horas de angustia da existência; nos momentos de desorientação; quando a cruz se manifesta na sua máxima crueldade; quando desnuda nossas fragilidades e expõe nossas limitações, quando estamos na solidão e na orfandade sem mão sem mais ninguém.

Mulher, eis teu filho! Esse filho foi João ontem, é você hoje, somos nós, humanidade de todos os tempos e espaços geográficos. Eis tua Mãe! Aquela que é mãe do filho Deus passa a ser a Mãe da Igreja assim como cuidou do Filho do Eterno Pai cuidará dos filhos adotivos. Isso acontece no momento em que ela se encontra junto da cruz consumando uma dor que lhe atravessa o coração: -“a ti uma espada transpassará tua alma! Para que se revelem os pensamentos íntimos de muitos corações (Lc 2,35) – é junto à sua cruz que O filho Jesus reveste Maria de uma maternidade espiritual e universal.

A história da piedade cristã ensina que Maria é via que leva a Cristo, e que a devoção filial para com ela nada tira à intimidade com Jesus, antes, aumenta e a conduz a altíssimo nível de perfeição.” (S. João Paulo II, 7 de maios 1997)

Como você vive sua condição filial? Que a exemplo do discípulo amado cada cristão receba Maria em sua casa, dando-lhe espaço na própria existência cotidiana, reconhecendo seu papel providencial no caminho da salvação.

Acolhe-nos, Maria, com nossas desilusões e nossas esperanças; com nossas fragilidades e entusiasmos. Acolhe-nos Maria, pega-nos pela mão, conduz-nos ao amor do teu Filho e mostra à todos o bendito fruto do teu seio: Jesus o Salvador.

Concluo esta reflexão com a oração de Anna Maria Conopi:

Senhor, Jesus, Rei da glória, não possui mais nadaFoste espiolhado da tua estima, do afeto dos teus discípulos. Te arrancaram tua veste levando tua dignidade; teus pés e mãos fixados no patíbulo da cruz te tiram a liberdade de qualquer movimento. Espoliado de tudo, te tornaste pobre mais do ninguém, porém nos reservaste um dom: Tua Mãe. Maria, tua mãe a ofereceste a todo discípulo, porque a sinta como própria mãe e reconheça em Ti o irmão amado e fiel. Amém!

Pe. Victor Zacarias Luaco PSDP

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