Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem (Lc 23, 34)
Os evangelistas deixaram-nos a narração das últimas palavras de Jesus antes da Sua morte e ressurreição. Ao longo da história da Igreja, constituíram e ainda constituem fonte de contemplação do mistério da redenção. A liturgia nos faz vivê-las, sobretudo na semana Santa, na narração da Paixão de Jesus.
São breves frases, comumente conhecidas por sete palavras, ditas por Cristo Crucificado, “que para os judeus é escândalo, para os pagãos é loucura, mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como pagãos, é poder de Deus e sabedoria de Deus.” (1Cor1, 23-24) Por isso, estas palavras se apresentam como a síntese do projeto da salvação que Deus Pai realiza através de seu Filho, o Salvador da humanidade.
“Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem.” Toda a obra de Jesus tem a finalidade de reconciliar a humanidade com Deus, oferecendo-nos o perdão. Ele não só nos salva, mas também justifica no nosso agir que, muitas vezes, é causado pela ignorância da realidade da nossa dignidade, que se assenta em viver como filhos no Filho Jesus, o qual vive uma relação continuativa com o Pai, no seio da reciprocidade do amor.
A causa do pecado, a humanidade rompeu, e rompe ainda hoje, essa filiação. Jesus pede perdão pelos nossos pecados e dando-nos o perdão, desta forma nos eleva à vida nova. Ele coloca-se ao nosso lugar, como afirma São Pedro: “Sobre o madeiro, levou os nossos pecados em seu próprio corpo, a fim que mortos para os pecados, vivêssemos para justiça. Por suas feridas fostes curados” (1Pd 2,24).
O que suscita em você esse perdão incondicional de Deus? Como vive o perdão? São João Crisóstomo pergunta: “ Como pode levantar as mãos ao céu ou mover a tua língua e pedir perdão? Posto que Deus te queira perdoar, não lho permite, enquanto não mudares da tua atitude hostil contra teu irmão”.
É na consciência do perdão recebido gratuitamente que cada um de nós deve ser “ministro da misericórdia”. Jesus exorta-nos à conversão interior: explica-nos o motivo pelo qual nos perdoa e ensina-nos a fazer do perdão recebido e oferecido aos irmãos o pão quotidiano da nossa existência. (Bento XVI)
É perdoando que se vive e se experimenta profundamente a benevolência e gratuidade do Perdão de Deus que não tem limites. Jesus nos ensina, neste pedido, que a culpa pode e deve ser vencida pelo perdão e não pela vingança. Deus nos perdoa, mas o perdão de Deus só pode penetrar em nós se formos capazes de perdoar nossos irmãos. (Bento XVI)
Senhor Jesus, muitas vezes tenho dificuldades em perdoar e esquecer o mal recebido. Lembro que tu nos disseste: “Sejais misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso; não julgais e não sereis julgados; perdoais e sereis perdoados”.
Liberta o meu coração, eu peço, de todo o ressentimento; prepara-o para a reconciliação. Tu que sobre a cruz perdoaste, dai-me um grande amor para que eu possa dar passos para a reconciliação. Amém!